terça-feira, 4 de abril de 2017


Uma Indústria de Artes em Ronaldo Dededo


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Em visita com minha amiga Eglice Abreu ao Bella Gabriella Ateliê de Artes e Restaurações de Ronaldo Dededo no Bairro do Jardim Petrolar- Alagoinhas flagrei um artista a todo vapor criativo: amor,dedicação e sonhos de artes encontram-se por lá.

Dededo falou-me sobre sua formação autodidata de artes, seu Mestre fora na verdade seu barbeiro Samuel, que tinha seu estabelecimento na Praça Kenedy. Ele contou-me que quando  ia cortar o cabelo com este senhor, as vezes o encontrava a esculpir em pedaços de madeiras com facas de cozinha quebradas isto quando não havia clientes, aquilo o fascinou, um dia ele pediu para o Barbeiro Samuel fazer um desenho de um Cristo para ele entalhar em uma tábua, foi ali que tudo começou disse-me o artista emocionado: “a partir daquele momento nunca mais parei”, seu mestre o incentivava , elogiando, daí em diante começou seu próprio trabalho escultórico em seu estilo pessoal.

Persistência é a sua maior qualidade, percebe-se uma grande lição para nós artistas em começo de carreira, a arte de acreditar em si, no próprio trabalho sem nunca duvidar. Dededo é um prolifiquo artista plástico, escultor de talento, com uma produção gigantesca.

Percebi um escultor ávido pelo porvir, o que ele já fez não o interessa, ele explora possibilidades de um encontro com o novo, de algo de surpreendente, inusitado, exclusivo.
Este mestre é um compulsivo criador, fala enquanto esculpi, cria enquanto dialoga com o seu espectador, seu processo criativo é assim revelado. Seu trabalho tem influência das Civilizações Pré Colombianas: Maias, Astecas, Incas e dos Totens Indígenas
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Infinitas são as possibilidades artísticas neste mestre que tem uma arte consciente com o meio ambiente, pois ele recicla , apropria-se, re-significa, sobras de materiais como madeiras, compensados tanto na condição escultórica assim como na acepção pictórica em quadros de cunho expressivo pessoal, uma espécie de auto cura para o artista em sua inquietação interior, como me disse ele. Ele elege a questão da rusticidade como características em seus trabalhos de entalhes em letreiros em alto relevo. Desenvolve mandalas, mosaicos, pinturas.

Em seu ateliê indústria de artes, sente-se a energia criativa no ar, uma atmosfera em ebulição artística em erupção em totens, formas abstrato-orgânicas a procura de um conceito , de uma razão de ser arte pura e simples genuinamente.
Milhares de obras disputam a atenção do espectador ávido pelo novo em artes plásticas.
Dededo é um artista alagoinhense em constante reinvenção plasticamente falando, sua arte é mutante, ela está em constante movimento, nunca parada. A cada ângulo se transforma em arte diferente e inusitada. Para ele a concepção de cada obra é como se um parto, em seus trabalhos prevalece um toque do sensual, além de ter uma arte espiritualizada.
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Em Alagoinhas encontra-se um “Demiurgo” criador que varre sua percepção em busca de algo novo , de acordo com os ditames de sua criatividade enquanto artista plástico, sujeito instaurador de novas realidades perceptivas envolventes.
Ronaldo Dededo em Alagoinhas é uma possibilidade original a ser explorada em termos de artes visuais, é um legitimo representante de nossa cultura.

Ed Carlos Alves de Santana

Artista Plástico e Mestre em Artes Visuais pela EBA-UFBA

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

GIL RODRIGUEZ - "O artista dos índios".

 
 GIL RODRIGUEZ DOS ÍNDIOS

Ele é conhecido como "o artista dos índios", pois, retrata de forma quase visceral, os índios tupinambás e outra etnias. Seu nome é Gildasio Rodriguez, nascido na cidade de Alagoinhas. Gil, como é carinhosamente chamado, se considera um autodidata. Começou a desenhar aos oito anos de idade, personagens de quadrinhos, desenvolveu gosto pela arte na adolescência pintando temas como paisagens, animais, personagens da história do Brasil, negros e índios, participando de vários cursos de pintura, inclusive com o professor de artes plásticas de Salvador Edson Calmom.
 
Desenvolveu um estilo próprio com uma temática indígena procurando retratar um pouco da cultura do nosso país, tendo vários de seus trabalhos vendidos a países da Europa onde participou de  exposições. Entre elas: EXPOSIÇÃO COLETIVA DE PINTURAS (TRAJECTOS) ALENQUER, ENCONTROS NAS ARTES(GALERIA DE OURÉM) Junto ao castelo de Ourém e TALENTOS DO BRASIL (PALÁCIO DA INDEPENDÊCIA DE LISBOA) e BRASIL COFFEE HOUSE (NOVA YORK).
 
 
 Também expôs no 4º SALÃO DE ARTES DA BAHIA, TEATRO MUNICIPAL DE ILHEUS, CASA DOS ARTISTAS, ACADEMIA DE LETRAS, SALÃO DO AEROPORTO, CINE ITACARÉ, HOTEL EDÉM VILLAGE e BATACLAN. 
 
 FONTE: http://aculturadagente.blogspot.com.br/

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

IPAC - INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DA BAHIA

 
 
1.O que é o IPAC?
O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) é uma autarquia vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), e atua de forma integrada e em articulação com a sociedade e os poderes públicos municipais e federais, na salvaguarda de bens culturais tangíveis e intangíveis, na política pública estadual do patrimônio cultural e no fomento de ações para o fortalecimento das identidades culturais da Bahia.

2.O que é patrimônio cultural?
Patrimônio Cultural é tudo o que faz parte da construção histórica e cultural do ser humano em um determinado espaço físico, entendendo-se cultura como complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.

3.Qual a diferença entre patrimônio material e imaterial?
Materiais seriam prédios, monumentos, conjuntos urbanos, artefatos, obras de arte, entre outros. Já os imateriais são aqueles cuja existência depende da contínua ação humana, ou seja, o conjunto das práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas.

4.O que é registro? O que é tombamento?
Registro e tombamento são instrumentos legais de proteção do patrimônio cultural. O tombamento se aplica aos bens materiais – edificações, monumentos, objetos, ou seja, significa um conjunto de ações realizadas pelo poder público com o objetivo de preservar, através da aplicação de legislação específica (Lei Estadual nº. 8.895, de 16 de dezembro de 2003), bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Estes bens devem possuir valor de preservação para todo o Estado da Bahia. 
 Já o registro é aplicado aos bens culturais imateriais – festividades, ofícios e técnicas, saberes e outras expressões culturais. A função desses instrumentos, além de atestar a qualidade do bem e sua importância para o conjunto da sociedade, é protegê-los da ação humana predatória, garantindo a permanência da memória e da identidade social de um determinado local ou comunidade.

5.Quem pode solicitar um tombamento?
Qualquer pessoa física ou jurídica, proprietário ou não, pode solicitar a preservação de bens culturais localizados no estado da Bahia. O pedido é feito através de correspondência dirigida à Diretoria do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).

6.Quais são os critérios para tombar ou registrar um bem?
Para se tombar ou registrar um bem cultural, dois critérios são fundamentais: a singularidade e a excepcionalidade.  Um bem é singular quando detém características que lhe dão um caráter único, original, dentro de um universo de elementos similares. É excepcional quando apresenta qualidades técnicas, artísticas e estéticas de grande valor, excepcionais que o distinguem de outros.

7.Quais são os benefícios do tombamento ou registro?
Bens tombados ou registrados recebem alguns benefícios diretos como o acesso a fontes de financiamento público para conservação e restauro (bens materiais); incentivo e promoção (bens imateriais). Além disso, um bem preservado, oferece à comunidade onde está inserido um caráter peculiar, original e singular que a distingue de outras comunidades. Isso lhe garante uma identidade forte que pode e deve ser usada como mola para o turismo sustentável.

8.Perderei meu bem caso ele seja tombado?
A propriedade do bem não é alterada, permanecendo com o proprietário do imóvel a responsabilidade de manutenção e conservação do mesmo.

9.Posso alugar ou vender um bem tombado?
Pode, porém deverá informar ao novo inquilino ou proprietário, do regime de proteção que se aplica ao bem.

10.Posso reformar o meu bem após o tombamento?
Pode, porém toda e qualquer intervenção (construção, restauração, reforma) deverá ser submetida à aprovação prévia do IPAC.

http://www.ipac.ba.gov.br/


terça-feira, 19 de junho de 2012

GRIF - Grupo Inspiração Feminina


QUEM SOMOS

O Grupo Inspiração Feminina, conhecido como GRIF, nasceu há 10 anos, na cidade de Alagoinhas, na Bahia, por iniciativa de 12 mulheres. A idéia na época, e que se mantém até hoje, era de ocuparmos nossos espaços de cidadania plena e trazermos para a sociedade o debate sobre questões do gênero.
Com o passar do tempo, o grupo percebeu um esvaziamento das mulheres nas atividades planejadas. Naquele momento, foi preciso iniciar uma reflexão sobre o futuro do GRIF, chegando à conclusão de que era necessária a realização de ações que levassem à geração de renda. Optando pelo artesanato, começamos a estimular a formação de vários grupos de produção e feiras de exposições e comercialização em alguns bairros da cidade.
Os vários grupos foram convidados a participar de um curso para decidirem o tipo de organização que pretendiam constituir, associação ou cooperativa, por exemplo. Participaram do curso cerca de 70 artesãs. Depois disso, nós, mulheres do GRIF, formamos uma comissão provisória para dar início ao processo de criação de uma cooperativa. Nesse processo, a comissão provisória para dar início ao processo de criação de uma cooperativa. Nesse processo, a comissão provisória contou com a parceria da Cooperativa Fibras do Sertão (Cooperafis), da cidade de Valente, na Bahia. Além do modelo de estatuto emprestado pela cooperativa, nos deram a sugestão de iniciarmos um processo de produção e comercialização coletiva. A Cooperafis sugeriu, também, que fosse definido um produto para ser o “carro chefe” do GRIF e, só depois desse exercício, tornássemos a cooperativa uma realidade.
O GRIF era ainda um grupo informal, quando no dia 30 de janeiro de 2010 foi realizada a assembléia de fundação da Associação Grupo Inspiração Feminina. A partir dessa data, o GRIF começou sua caminhada para se tornar, em breve, uma instituição juridicamente constituída.
O trabalho desenvolvido pelo grupo vem conseguindo gerar renda para o seu quadro social, aumentando a auto-estima das trabalhadoras com a produção e a comercialização de produtos artesanais, feitos com a utilização de materiais orgânicos da agricultura familiar e da sociobiodiversidade (produtos encontrados no bioma local). Além disso, também direcionamos nossas ações para a valorização e para o resgate da cozinha típica regional, dos produtos saborosos e do prazer da alimentação da roça, resgatando práticas tradicionais de fabricação de doces que estão sendo esquecidas. Hoje, nós do GRIF podemos nos orgulhar de nossas conquistas, insistindo nessa força que continua a nos mover em busca de melhorias constantes, para nós, para a cidade em que vivemos e para o mundo do qual somos parte essencial.

 
SUSTENTABILIDADE E RESPEITO AO MEIO AMBIENTE

Os materiais que dão vida aos produtos do GRIF vêm de diversas partes da natureza. Tudo reutilizado de forma consciente e com respeito ao meio ambiente. De materiais dispensados na cozinha, passando a variedades encontradas nos quintais, nas sobras de feiras livres até folhas e sementes recolhidas nas ruas ou matas próximas. Tudo se torna matéria prima minuciosamente trabalhada por nós, mulheres artesãs.
De nossas casas, por exemplo, pegamos a casca da cebola que foi descascada, a casca do ovo, ou a palha de alho. Dessas matérias originam-se muitos dos cartões postais colados a mão, entre outros produtos. Pelas ruas sempre nos deparamos com folhas secas, pequeninos galhos secos (garracho), sementes, pedrinhas e pétalas de flores a partir dos quais criamos as figuras que caracterizam nossos produtos.
Na zona rural vem a palha de bananeira, a manta do coco, a casca da mandioca, a casca de madeiras secas, mais sementes, musgo das laranjeiras, do cajueiro ou do dedenzeiro. Além de trabalharmos nossos produtos, ajudamos no manejo de plantas que estão sumindo da região. Nesse processo, já participamos de uma oficina sobre manejo pela Rede Bodega (BA), porque já entendemos que, de onde se tira e não se repõe um dia pode faltar.
No mar encontramos as conchas que se transformam em brincos e detalhes de quadros e  as algas que também entram em composição de desenhos.
Independentes do local de onde retiramos nosso material têm a mesma certeza do cuidado e amor que devemos ter com a Mãe Natureza. Orientamos nossas mulheres sobre a época boa de coletar cada matéria-prima, observando com cuidado para não agredir a natureza. Nunca colher folhas verdes ou tirar uma flor para deixar seca em casa, são recomendações seguidas. Conseguimos facilmente matérias-primas porque a natureza dispensa todos os dias muitas folhas, sementes e galhos. E se ela dispensa, nos dá permissão para reaproveitá-las e assim ajudarmos não só o grupo, mas o meio ambiente.

 
A FORÇA DAS MULHERES

Nossas vidas mudaram e continuam mudando sempre que aprendemos algo novo. Aprendemos a enfrentar nossos desafios, seja dentro de casa, dividindo as angústias ou a falta de renda familiar. Uma foi ajudando à outra nos momentos que mais precisávamos. O que mudou na nossa vida com isso? Fortalecemos-nos e hoje temos um trabalho que rende algum lucro, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. Um trabalho que pode e precisa melhorar. Ainda lutamos diariamente para que a qualidade e o valor dos nossos produtos sejam reconhecidos.
Nós, mulheres, já conquistamos muito espaço no mercado de trabalho em vários campos, mas ainda lutamos por um reconhecimento, principalmente, uma remuneração com igualdade em relação aos homens. A busca por nossa valorização, da nossa mão de obra, é o que pretendemos conquistar com esse trabalho, abrindo espaços para divulgação, comercialização e assim estimulando ainda mais o trabalho feminino e a produção com qualidade.


 TRABALHO COOPERADO E DEMOCRÁTICO

Começar um trabalho em cooperativa, com atividades autogestinadas, não é fácil no início. Com o tempo, torna-se um processo de adaptação em uma nova economia (a Economia Solidária) e de descoberta de outra forma de se trabalhar. Com sabedoria e união as coisas vão se encaixando e os sonhos vão se realizando porque o mais importante num trabalho de muitos é que todos sonham juntos.
Nossa experiência de cooperativa está ainda nos primeiros passos, mas já percebemos os bons resultados que brotam dessa forma de organização, abrindo mais espaço de trabalho para as mulheres de Alagoinhas, gerando renda e melhorando a auto-estima das trabalhadoras, que se sentem cada dia mais capazes.


 GRIF - Grupo de Inspiração Feminina

Neide Alves - Coordenadora geral e artesã (neidedagrif@gmail.com)
Pauline Fernandes - Secretária executiva e artesã (paulineartesanato@hotmail.com) 
Elizete Santos - artesã
Jeonice Batista - artesã
Raissa Alves - artesã
Ubiraildes da Silva - artesã

End.: Travessa João Amorim, 160 - Bairro Santa Isabel
CEP 48107-999 - Alagoinhas - Bahia

contatos:
75 - 8102-3942
75 - 9933-0160
75 - 9100-0793
75 - 3181-4425

Endereço eletrônico: grif@oi.com.br

Texto do Catálogo de Produtos GRIFF

terça-feira, 8 de maio de 2012

O Samba de Roda do Burí - Uma expressão maior da cultura popular de Alagoinhas.


Era fim de tarde. O sol já começava a se esconder, quando decidi ir à casa de dona Maria do Carmo. O motivo da inesperada visita era conhecer um pouco sobre o samba de roda do Burí. Pude perceber ao longo da conversa, que dona Maria do Carmo, professora há mais de 30 anos, tinha uma trajetória que ora se confundia com a história e o crescimento daquele po-voado, ora com a preservação da tradição local representada pelo grupo de samba de roda. 


O vestido florido, de certa forma estampava a simplicidade daquela mulher, que me recebeu com toda disposição. O que poderia ser uma pretensiosa entrevista enfadonha, foi na verdade um bate-papo descontraído e engraçado. O sorriso aberto, e a alegria de falar sobre o Burí, lugar onde nasceu, e criou-se, e ainda, onde desde 1977 exerce sua profissão, deixou dona Do Carmo muito à vontade para falar sobre o prazer de fazer parte do samba de roda da sua comunidade. É tanto, que sem modéstia alguma afirmou logo de cara: “sou eu que sacudo mais o grupo”, e em seguida, soltou com deboche uma forte gargalhada. Então, foi possível perceber que ali, onde estávamos, naquela pequena varanda, não havia espaço suficiente para a enorme satisfação de dona do Carmo em falar sobre o samba de roda e sobre o Burí: - “Lá é um lugar assim (...) se você não conhece, você vai gostar. O Burí é muito bom.”


Dona Maria do Carmo é educadora no Burí, desde quando seu Faustino Bispo criou a primeira escolinha daquele lugar, feita de taipa, à qual deu o nome de Senhor do Bonfim. E é sambadeira desde criança. Através de seu pai que tinha um pandeiro, ela pegou o gosto pelo samba, que já vinha sendo passado de geração a geração. Segundo a professora, o morador mais velho do Burí, Seu Vítor, afirma que seus antepassados, os primeiros a morarem naquela região, eram descendentes de escravo. O samba de roda é uma manifestação cultural que possui forte vínculo com a cultura africana trazida pelos escravos, que viam trabalhar no Brasil, à época da colonização. Devido a sua importância histórico-cultural, o samba de roda foi tombado em 2005 como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Leve-se em conta que a roda de samba sempre serviu como forma de diversão e de comemoração nas comunidades rurais, nas roças do Burí não foi diferente. Sempre depois da reza vinha o samba de roda. Se tinha um caruru, depois fazia-se um samba, se tinha queima da Lapinha, todo mundo sambava. No povoado do Burí, que tem esse nome por causa de uma árvore parecida com um coqueiro, chamada burí, a maioria da população vive do cultivo e da comercialização de produtos feitos da mandioca, como o beijú, a tapioca, o carimã e a farinha. 


O grupo Raízes da Terra do Burí quando se apresenta reúne mais de quarenta pessoas, entre tocadores, as mulheres que sambam e cantam e os jovens e as crianças que não dispensam a folia. A maioria das pessoas que compõem o grupo é morador da localidade. “- Eu me sinto muito feliz. Com o samba posso levar alegria aos jovens e adultos. E quando eu vejo as crianças participando, eu vejo que aquilo ali não vai morrer. Eles gostam”, diz a professora. Enquanto os homens tocam os instrumentos, a viola, o timbau, o cavaquinho, o pandeiro e o agogô, as mulheres no meio da roda, com suas saias coloridas, sambam e batem palmas. O grupo costuma se apresentar quando é convidado por instituições, não cobra para participar dos eventos, tendo apenas como retorno, o prazer de mostrar sua cultura e levar alegria ao público. 


Em meio à conversa com dona Maria do Carmo, ligeiramente a tarde tornou-se noite. Então ela levantou-se e entrou em sua casa para acender as luzes da varanda. De quebra, trouxe um caderninho; nele estava os sambas antigos, que um dia ela ouviu seu pai cantar, e que com certeza, um dia ele também aprendera com os pais dele.  

A vontade de preservar o samba de roda, as raízes culturais do Burí, se resume na última frase de Maria do Carmo: “Quem sabe no futuro, nossos filhos, nossos netos continuem fazendo o samba. Seria muito bom.”
Pedi licença para copiar alguns versos dos sambas que estavam no caderno. E cheguei a uma conclusão. Enquanto houver o amor e a dedicação dos moradores do Burí em fazer o seu samba de roda, como pude perceber naquela rápida conversa com dona Maria do Carmo, ele com certeza não deixará de existir.

"Vem cá morena, vem me cantar, Oh.. morena segura esta saia,não deixa cair...eta..eta..Não deixa parar este samba,é pagode ele veio pra ficar, Sapateia morena do meu coração..eta..eta Rebola as cadeiras e não diga que não.. Oh morena bonita eu vim te amar.. Eu te encontro na Praça da Sé...é o samba do Burí, este veio pra ficar."

 Texto: Aline Santos - Caderno Cultural Expresso 18 - Setembro/2011
Fotos:www.teatrobac.blogspot.com